Estava eu conferindo uma caverna que apresentou uma anomalia desconhecida.

Escutei um ruído abafado e pensei: “Algum animal foi arrastado pela correnteza e precisa de ajuda”.

Vi um mergulhador deitado na pedra, respirando com dificuldade.

Ao me aproximar, ele perguntou:
— Você é invisível? É um extraterrestre? Um intraterreno? É amigo? — perguntou assustado.

— Se eu fosse invisível, você não me veria. — respondi, bem-humorado.

— Vejo um espectro luminoso, uma nuvenzinha brilhante. Está escuro e muito frio e perdi um de meus cilindros de ar comprimido. Não conseguirei chegar ao barco sem me afogar, aqui, morrerei de frio e fome, não está sendo um bom dia.

— Volte andando. São três mil metros acima e estará na superfície. — respondi.

— Três mil metros? Três quilômetros? Onde está a saída dessa caverna? — ele perguntou.

— Lá em cima, naquela pedra grande. Encontrará um túnel, siga em frente e sempre para cima, não desça ou nunca sairá.

— Obrigado, Sr.?

— Alencar. Tem que levar tudo que é seu, inclusive esse cilindro de ar comprimido vazio. Sr.?

— André. Mergulhador profissional. Estudo espécies raras submarinas. Vi um peixinho luminoso entrar no túnel e vim atrás, mas um dos meus cilindros se soltou e perdi minha lanterna.

André levantou-se, suas pernas fraquejaram, ele estava entrando em hipotermia.

Tive que aquecer o ambiente. Em alguns minutos André começou a reagir.

— Que bom que chegou uma corrente de ar quente. Já consigo respirar. É melhor eu ir antes que esfrie novamente. — falou o mergulhador.

Resolvi acompanhar André. Aumentei o oxigênio e mantive a temperatura o suficiente para o corpo permanecer na temperatura ideal.

Mesmo sendo um atleta, o homem resfolegava e, por várias vezes, parou para respirar.
Por duas horas André caminhou, ora com vigor, ora lentamente. Ele parecia exausto.

— Lá está a saída! Há uma árvore de jabuticaba, saia, coma algumas. Esqueça esse caminho. Nunca mais volte aqui. — avisei.

— Você não me respondeu se é um intraterrestre.

— Sou energia, uma consciência.

— Obrigado por me salvar. Três quilômetros, eu venceria em menos de 30 minutos, se estivesse em condições normais. Precisei do seu calor e do oxigênio que me liberou. Nunca mais voltarei aqui e ninguém saberá essa minha aventura. Algumas pessoas que conheço invadiriam aqui só por curiosidade e alguns para destruí-lo. Fique em paz.

Vi André sentar e comer jabuticabas. Ele partiu e nunca mais voltou.

— Considero essa experiência como agradável. Se 30% dos habitantes tivessem a pureza de sentimentos como André, o planeta já estaria anos-luz à frente.

FIM

— Obrigada por relatar sua experiência.

Conheça mais sobre quem contou uma de suas vidas.

Alencar

Guardião de Gaia

Nosso convidado de hoje.

— Boa noite! Meu nome é Alencar.

— Boa noite, Alencar. Com quem você trabalha?

— Trabalho como guardião de Gaia. Fui convidado por Werner. Faço parte dos Guerreiros das Profundezas de toda a cratera planetária.

— Pode explicar o que significa essa profundeza e qual o papel dela na transição?

— No centro do planeta existe um universo paralelo. O Sol, a noite, as estrelas, a flora, os animais e pessoas. Tudo o que existe na superfície. Esse mundo equilibra o planeta com alta tecnologia. Pouquíssimas pessoas foram autorizadas a visitar esse lugar. Agora ele começará a ser conhecido. Faz parte da quinta dimensão. Vocês diriam ser uma cidade subterrânea, mas não é. Existe somente na quinta dimensão.

Profundeza, por ser abaixo da superfície, vocês moram na superfície do planeta. Nós trabalhamos, impedindo que a crosta terrestre seja danificada e interfira no equilíbrio planetário, colocando em risco o núcleo da Terra.

— Vocês têm corpos físicos?

— Não! Somos energias etéreas.

— Em caso de ataque nuclear, se forem atingidos, serão destruídos?

— Não. Somos uma consciência e alteramos nossos átomos e moléculas conforme for exigido pela ocasião.

— Qual a qualificação necessária para ser um guerreiro das profundezas de toda a cratera planetária?

— Ascensionado. Cientista com conhecimento de toda matéria perecível existente nas diversas camadas da crosta planetária e capacidade de reverter a destruição ou a propagação de possíveis dissoluções.

— Teve vidas no planeta?

— Não. Conheço profundamente cada átomo, células e moléculas e como funciona em uma densidade baixa como vocês experimentaram e ainda conseguem manter um corpo de energia compacto. Vocês estão perdendo essa capacidade e, por isso, estão mudando de dimensão.

— Como posso representá-lo?

— Como quiser. Um espectro luminoso, um ser translúcido ou uma nuvenzinha. Contarei a experiência que tive com um visitante: “Um mergulhador especial”.

— Obrigada pelo novo conhecimento que acabei de receber.