Uma cidade foi atacada de surpresa pegando a população totalmente desprevenida e desprotegida.
Gritos, lamentos e apelos chegaram até o Arcanjo Miguel e ele imediatamente chamou hordas e mais hordas para auxiliarem nessa tragédia que estava acontecendo.
Recebemos a instrução do que deveríamos fazer, sem interferir na missão de cada um.
Um choro angustiado e baixinho chegou até mim. Cheguei no local e era um menino de aproximadamente oito anos.
O prédio havia sido atingido por bombas aéreas, desmoronado e a criança estava em um pedaço do prédio que ficou suspenso por vigas.
Analisei a situação e não vi nenhum caminho para indicar. O andar era alto, sem escadas ou ligações com outros compartimentos. O menino, sentado em um canto, estava ferido e não se atrevia a se mover. A sua frente não havia parede e ele via o prédio vizinho em chamas.
Ele entrou em pânico e vi que seu cérebro ia se apagar e para tirá-lo da insanidade momentânea, tive que me materializar para acalmá-lo.
— Olá, tem alguém aqui? — gritei.
O menino ficou em silêncio e repeti as mesmas palavras.
— Onde você está, eu não o vejo. — gemeu o menino.
Havia muito entulho e sai de trás dele e fui em direção ao menino.
— Você está ferido? Posso ajudar?
— Minha perna está sangrando e não consigo mexê-la, doe muito. — chorava a criança.
Era uma fratura exposta.
— Está quebrada. — avisei.
Uma bomba explodiu perto e o lugar balançou. O menino gritou de pavor e tentei acalmá-lo.
— Calma! Não foi aqui. Qual é seu nome?
O menino olhou para mim por alguns segundos e disse: não lembro, esqueci meu nome.
Coloquei a mão na cabeça da criança e a fiz adormecer. Chamei por Natanael, um anjo da cura, e pedi se ele podia curar a perna e a mente da criança.
Natanael me mandou colocar o osso da perna da criança no lugar e fazer uma tala com roupas que achei no lugar que provavelmente era um quarto. Rasguei um lençol, embrulhei um pedaço de madeira e a usei como tala.
O anjo da cura disse que a perna estava curada, só precisava do tempo do corpo denso para se regenerar. Que eu já podia tirá-lo do surto de pânico, mas era melhor deixá-lo dormindo até a ajuda chegar.
Agradeci a Natanael e entrei no sono do menino e brinquei com ele. Contei a história da criança corajosa que por dois dias ficara sozinho no que sobrou do quarto dela, sem água e sem comida.
O menino foi retirado pelos bombeiros em um helicóptero. Dormia profundamente. Eu o acordei quando já estava indo para o hospital.
Ele contou que eu havia enfaixado a perna dele que sangrava.
Os médicos sabiam que alguém cuidara do ferimento e improvisara a tala como um profissional, mas ninguém soube explicar como alguém chegou e saiu de lá.
O nome do menino era Luís.
Essa foi a experiência mais difícil que enfrentei, até precisei da ajuda de outro anjo.
FIM
— Obrigada, Antonio. Sua experiência foi linda.