Nasci na França, filho de Henri e Madeleine. Meu nome foi Edmond.

Na parte mais miserável de Paris, eu cresci. Não frequentei escola, aprendi a ler em casa. Minha mãe era costureira. Vendia suas confecções em casas de classe média alta. Eu a acompanhava, carregava a máquina de costura. Ela vendia e já fazia os ajustes necessários. Eu ficava sentado na calçada, esperando por ela.

Meu pai sempre queria o dinheiro todo das vendas, mas minha mãe sempre separava uma parte para ela, pagava um salário para mim, toda semana, sem meu pai saber.

Eu guardava o dinheiro escondido. Minha mãe dizia: aproveite o sábado e domingo, divirta-se, vá ao circo, ou teatro, compre guloseimas das padarias chiques.

Meu pai bebia até cair e lá ficava.

Um dia, conversando com mamãe, ela me contou que o sonho dela era ir ao teatro. Nunca entrara em nenhum.

― Vamos no sábado? Esperamos papai se embebedar e saímos. Ele nunca saberá que saímos.

― No sábado, não. Os vizinhos contarão ao seu pai e terei problemas. Iremos à sessão da tarde na quinta-feira. Encerro as vendas logo após o almoço.

Na quinta-feira, fomos ao teatro. Minha mãe ficou horrorizada. As artistas dançavam Cancã com as pernas de fora e deixavam as calcinhas aparecerem. Eu adorei, fiquei encantado.

Quando chegamos em casa, meu pai já estava bêbado e achou ruim com mamãe. Ele estava com fome.

Mamãe fez a comida e deu um prato para meu pai e perguntou:

― Por que chegou tão cedo? Foi mandado embora do emprego?

― O chefe implicava comigo e eu pedi as contas. Amanhã arranjarei outro.

― A obrigação de sustentar a casa é sua. Há seis meses que não ajuda em nada. Não lhe darei mais um tostão para suas bebidas. Se quiser comer, pode. Bebida é vício, cada um que pague o seu.

Meu pai olhou com ódio para minha mãe.

― Você ganha muito bem com suas costuras, egoísta. Se não me der o dinheiro, vai morar na rua.

― Não darei.

― Arrume suas malas e saia da minha casa. ― gritou meu pai.

Minha mãe foi para o quarto, pegou tudo que era dela e disse:

― Vem morar comigo, Edmond. Com esse bêbado você passará fome.

Fiz sinal para minha mãe me esperar e peguei minhas coisas e a acompanhei.

― Edmond, se sair, não tem volta. Ficará com essa vagabunda. ― gritou ele.
Ignorei meu pai e ajudei minha mãe a carregar a pesada mudança dela.

Minha mãe alugou uma casa bem longe de onde morávamos. Não queria encontrar meu pai novamente.

Quando estávamos vendendo as confecções em um bairro bonito, vimos uma casa com janela na frente e estava para alugar. Minha mãe se encantou com a casa e fez as contas e disse:

― Moraremos aqui. Farei uma loja bem bonita, aumentarei os preços de minhas costuras.

Minha mãe se tornou uma modista conhecida. Seu bom gosto e a qualidade de sua costura lhe trouxeram clientes ricas que compravam roupas mensalmente. Compramos a casa.

Três anos depois, eu estava na porta do teatro e um morador de rua veio me pedir uma esmola, alegando querer um prato de sopa.

Quando olhei para ele não acreditei, era meu pai.

Eu me vestia muito bem, minha mãe caprichava na minha roupa e ele não me reconheceu. Dei o dinheiro e ele saiu, nem olhou para mim.

Após a sessão do teatro, ao sair, vi meu pai dormindo na calçada, completamente embriagado. Não soube o que fazer.

Fui para casa e contei para mamãe.

Minha mãe respondeu com raiva: durante doze anos sustentei aquele bêbado, não farei mais isso. Ele que viva a vida dele. Não o traga para cá.

Aquela noite choveu muito e esfriou. Assim que amanheceu, levantei, enchi uma garrafa térmica com chocolate, comprei pão e levei para meu pai.

Ele estava dormindo na calçada.

― Henri, acorda! Trouxe um chocolate quente e um pão quentinho.

Ele nem se mexeu. Toquei nele e estava gelado. Chamei uma ambulância. Ele estava vivo, com hipotermia e pneumonia.

Ficou dez dias no hospital. Eu o visitei diariamente e ele não me reconheceu.

― Preciso sair daqui. Preciso de um licor. Quem é você por que me trouxe para cá?

― Sou seu novo amigo. Você estava morrendo. Está de alta, vou levá-lo para sua casa.

― Não tenho casa. Minha mulher e meu filho venderam minha casa, expulsaram-me e se mudaram para Londres. Por isso, eu bebo.

Fiquei surpreso com o que ouvi.

― Mentiroso! Conheço Edmond e Madeleine e sei que você os expulsou de sua casa.

― Onde eles estão? Aquela vagabunda e o bastardo do Edmond vão se ver comigo por terem me abandonado.

Minha vontade foi bater nele.

― Estão morando em Londres. Pensei que você pudesse me fornecer o endereço. Queria ver meu amigo Edmond. Perdi meu tempo. Você não passa de um bêbado mentiroso.

Levantei-me e fui embora. O hospital era particular. Paguei a estadia dele e fui embora.

Andei por muito tempo, para ter certeza de que não seria seguido por aquele homem. Eu me recusava a ser filho dele.

Quando cheguei em casa, era tarde e minha mãe esperava por mim.

― O que aconteceu? Você não apareceu no almoço e nem para o jantar.

Contei o que havia acontecido.

― A casa era alugada. O dono deve ter jogado ele na rua. O que pretende fazer?

― Não farei nada. Ele nem me reconhece.

Nunca mais encontrei meu pai.

Eu sempre ficava me perguntando: Nasci para fazer o quê? Para onde irei quando morrer? Qual o propósito da vida? Por que tenho uma mãe maravilhosa e um pai bêbado que nem me reconhece?

Fiz essa pergunta para minha mãe e ela respondeu: quando tiver as respostas me diga você.

Essa experiência foi o meu despertar.

Fim

― O que aconteceu com Henri na sua vida?

― Eu, Henri e Madaleine voltamos em outras vidas e resolvemos nossas diferenças. Cada um seguiu de acordo com suas escolhas. São meus amigos amados.

Obrigada, Wanderley.

Conheça mais sobre quem contou uma de suas vidas.

Wanderley

Voluntário para auxiliar na transição

Nosso convidado de hoje é Wanderley.

― Boa noite, Wanderley. Com quem você trabalha?
― Com a Federação Galáctica. Sou da equipe dos ascensionados.

― Qual a função de um ascensionado?
― Todo planeta opera em cima de um projeto minuciosamente preparado para receber espíritos de qualquer parte da galáxia. A Terra está em transição, de um planeta de trevas para um planeta de luz. Uma escola dura para todos que aqui chegavam. Hoje, está em transição, os novos espíritos que estão chegando são esclarecidos e se preparando para uma era de luz e ascensão. Estou me preparando para ser um, entre eles, num futuro próximo.

― Você vem de outro planeta?
― Ascensionei em outro planeta e me voluntariei para auxiliar a estabilizar o equilíbrio energético e na reconstituição planetária que ainda será muito abalada. Tive várias encarnações na Terra.

― Como posso representá-lo?
― Adotei a aparência de uma vida em que fui artista de circo. Era trapezista. Mesmo sendo um excelente atleta, a minha plateia era feminina e elas iam me assistir por eu ser um galã.

― Descreva seu porte físico. Alto, magro, cabelos pretos lisos, olhos esverdeados, rosto bonito, sorriso mostrando dentes perfeitos. Quando eu não estava no trapézio, era o elegante apresentador.

Obrigado, Wanderley.

Minha experiência: “O encontro inesperado”.