Meu nome é 卓昂, pronuncia: Yuehàn, João em português.
Nasci na China em uma ocasião de guerra. Meu pai foi chamado pelo exército e se tornou um soldado, sem opção de escolha. Minha mãe ficou cuidando da plantação de arroz, de mim, que era um bebê de colo e de minha irmã de 10 anos, que a ajudava em tudo. Morávamos perto da fronteira. Todos os habitantes do vilarejo foram instruídos a pegarem o que pudessem e abandonar a região, pois tudo ali seria destruído. Se o inimigo conseguisse chegar até ali, nada encontraria para comer.
Minha mãe e as outras famílias pegaram seus pertences e viram todo o trabalho de uma vida ser queimado. Não tinham mais nada. Marcharam para a vila mais próxima esperando encontrar um abrigo. Lá também havia sido queimado pelo exército e não havia ninguém. Não sabiam para onde ir. Seguiram seus instintos. Perderam a noção de quanto andaram e em que direção estavam indo. Atravessaram a fronteira de um país chamado Butão. Foram recebidos com reservas, mas nos deixaram ficar. Minha mãe era uma mulher que trabalhava muito e logo se estabilizou em um emprego.
Cresci nesse lugar lindo. Fui à escola e lá conheci o budismo. Passei a me dedicar ao conhecimento das histórias divinas.
Minha mãe não acreditava em nada, mas não interferiu, era grata àquelas pessoas que lhe deram a chance de viver e criar seus dois filhos. Nunca tivemos notícias de meu pai. Minha mãe não queria voltar para a vida miserável que tinha e continuou no Butão.
Já adulto, eu fui ao Tibete em uma viagem de turismo e conheci os monges.
Pesquisei o que pude sobre o modo de viver dos monges. Decidi que seria um deles. Foi quando iniciei a prática das meditações e a me dedicar a vida espiritual.
Nessa vida não tive nenhum contato com mestres divinos, nem consegui expandir minha consciência como eu esperava, mas foi o meu despertar.
Eu mantenho o nome e a aparência dessa vida em homenagem a minha mãe Mingxia, a mulher maravilhosa, que muito trabalhou e lutou para que eu e minha irmã não precisássemos voltar para a região de onde viemos. Um lugar onde imperava a fome e a miséria e não importava o quanto se trabalhasse, todo alimento produzido era do governo, o pouco que deixavam não dava para matar a fome da família.
Fim