Há milênios os habitantes da terra tinham tecnologia muito avançada, mas os povos entraram em conflitos políticos e houve uma guerra. Foram detonadas duas bombas atômicas que praticamente destruíram o planeta.

Grupos de pessoas despertas, prontas para a ascensão, sabiam que se houvesse a guerra atômica somente sobreviveriam os que estivessem fora da superfície. Começaram a preparar um refúgio natural e protegido no solo terrestre. Atingiram seus objetivos, procurando túneis naturais na terra, mas usaram entradas através do mar, não havia tempo para cavar e construir túneis para toda a população.

Construíram uma base grande intraterrena e trouxeram toda a tecnologia do plano superior, beleza e conforto. A base reproduz a superfície o céu, montanhas e vegetação. O isolamento foi feito através de portais.

O conselho da Federação Galáctica selecionou os habitantes que estavam prontos para entrarem na Era da Luz e os encaminhou para essa base. Minha família foi uma das selecionadas quando eu ainda era uma criança.

Houve a guerra e tudo na superfície foi destruído.

Essas pessoas, quando vieram em fuga, trouxeram seus animais: os gatos, cães, galinhas, cabritos, coelhos, pássaros, ovelhas, gado, etc. Eles se adaptaram e com o tempo sofreram modificações genéticas, mas preservaram suas aparências.

Desde criança, eu gostava de estudar a vida animal. Meus favoritos sempre foram os cães. Desenvolvi, sem perceber, um grande amor por um cão de nome Mercúrio. Meus cães tinham nome de planetas.

Os cães intraterrenos são mais fortes, vivem mais e acompanham seus donos, como exatamente os da superfície. A diferença é que existe uma conexão entre as pessoas e os animais. Todos fazendo parte de um sistema em que ambos se beneficiam com a presença um do outro.

Mercúrio era meu companheiro inseparável.

Eu estudava a anatomia dos mamíferos e tentava descobrir por que viviam pouco tempo em relação a nós. A maioria vivia em seu habitat natural, climatizado, comida balanceada e mesmo assim, o ciclo de vida não se alterava.

Um de meus professores, em uma palestra, falou sobre os Devas. Eles cuidavam da vida animal. A maioria das espécies animais tinham uma consciência de grupo.

Eu nunca ouvira falar de consciência em grupo. Sabia muito pouco sobre os Devas e pesquisei. Talvez encontrasse a resposta com eles.

Nessa pesquisa, descobri que a vida física é uma experiência. A verdadeira essência divina, que nos mantém imortais, está na parte espiritual.

Alguns anos depois, Mercúrio partiu e com ele foi um pedaço de mim.

Levei quase duzentos anos tentando me conectar com os Devas.

Um dia, um cãozinho recém-nascido, estava com dificuldade para respirar e falei baixinho:
― Consciência Devas, me diz como posso ajudar esse filhote a sobreviver. Meus conhecimentos são poucos para manter um ser vivo.

Recebi a resposta.

― Ele está engasgado. Vire-o de cabeça para baixo e exerça pressão delicadamente na traqueia para o ar entrar.

Fiz o que ouvi e o cãozinho chorou, tossiu e vomitou uma espuma. Coloquei-o no chão e ele procurou instintivamente a mãe e foi mamar.

Agradeci ao Devas.

― Obrigado. Procuro um jeito de prolongar a vida dos animais há muito tempo. Pode me orientar para que eu chegue a algum resultado satisfatório?

Então ouvi:
― Eles vivem o suficiente para a consciência grupal ter um aprendizado e se expandir em amor e conhecimentos para a própria evolução. Não há porque viver mais, mesmo tendo todo o amor do seu protetor. É uma lei universal.

Fiquei tão surpreso com a resposta que nem tive palavras para continuar com aquela conexão.

Sempre que eu lembrava de Mercúrio, lamentava a sua ausência.

― Sinto muito, amigo. Existe uma lei que me impediu de manter você comigo por mais tempo. Quando eu entender as leis do Universo, talvez eu aceite a sua falta. Nada preenchia o vazio que ele havia deixado.

Ouvi:
Quando você aceitar que é imortal, que Mercúrio é imortal e todos os animais que você amorosamente cuida são imortais, a dor desaparecerá.

― Você é um Devas?

― Não! Sou um dos seus ancestrais.

Tentei dialogar, mas não tive mais respostas. Fui procurá-la com os mais velhos. Tive ensinamentos, mas essas palavras não expandiram minha consciência na época.

Por volta dos meus 350 anos, quando eu estava sentado na minha sala, vi Mercúrio entrando e sentando perto do aquecedor, como ele sempre fazia.

― Mercúrio, exclamei surpreso.

Ele desapareceu.

De repente, houve em mim uma explosão de consciência, Mercúrio estava na parte espiritual e eu na parte física. Às vezes, eu tinha um vislumbre e ouvia ou via o lado espiritual, mas nunca o entendi como agora. Apenas mudamos de uma dimensão para outra.

Esse despertar me levou a aceitar a separação de uma forma mais racional, mesmo doendo muito.

Nunca mais vi o Mercúrio, nem ouvi meu ancestral, mas o Devas me socorria quando eu precisava ajudar um animal.

Vivi 350 anos e tive várias expansões de consciência, essa foi a maior, foi a minha ascensão. Continuei na base intraterrena para me libertar do apego sentimental, ou melhor, expandir o amor incondicional.

Voltei para auxiliar na transição. Eu fui um dos moradores que, consciente ou inconscientemente, ajudou a desequilibrar o planeta.

Fim

Obrigada, Rafael.

Conheça mais sobre quem contou uma de suas vidas.

Rafael

Cientista subaquático, intraterreno

Quem é o convidado de hoje?

― Meu nome é Rafael.

― Quem é você Rafael? O que você faz? Com quem você trabalha?
― Trabalho com a equipe de limpeza energética das placas tectônicas. Venho de uma civilização intraterrena que foi chamada para auxiliar na aceleração do processo de transição.

― Você é um ser aquático?
― Não. Tenho um corpo físico, respiro oxigênio, aguento uma pressão um pouco maior do que vocês. Sou um ser ascensionado. Eu seria o que vocês chamam de cientista subaquático.

― A civilização intraterrena é mais antiga do que a civilização que ocupa a superfície do planeta?
― Sim. Os primeiros intraterrenos fugiram de uma hecatombe que aconteceu há milênios na superfície do planeta.

 Trabalho sob a orientação dos seres ascensionados encarregados de equilibrar o planeta que eles ajudaram a desequilibrar.

― Como posso representá-lo?
― Um homem de rosto agradável, cabelos quase brancos, pele muito branca, não tomamos sol. Somos altos e vestimos túnicas confortáveis. Olhos castanhos-amarelado, azuis ou verdes. Cabelos compridos, não muito.

― Existe algum significado nas joias que você está usando?
― Sim. Uso um medalhão de ouro com uma esmeralda. É um enfeite com tecnologia que faz com que eu nunca me perca, no ar, no mar ou em terra. Uma espécie de GPS semelhante ao que vocês usam para se locomoverem. A diferença é que não depende de satélite, internet ou de celular. Essa mesma tecnologia pode ser usada no anel, na pulseira ou em algum cristal.

― Quantos anos vocês vivem?
― Nosso corpo físico resiste cerca de 350 a 400 anos. Aos 300 anos, começa a envelhecer. Não conhecemos a doença. Há um desgaste natural do corpo físico e ele pode ser substituído a qualquer momento.

― Vocês já nascem despertos?
― Sim. Somos espíritos conscientes e trazemos todas as nossas memórias. Nossos corpos são projetados em laboratórios de alta tecnologia, lindos e perfeitos. Aqui o corpo físico não morre, cada um escolhe quando partir. Vivemos na Era da Luz. Geralmente é a última encarnação no planeta.

― Para sairmos do planeta temos que ter uma encarnação na base intraterrena?
― Não. Para sair do planeta é necessário entrar na Era da Luz. É a ascensão.

― O que é Era da Luz?
― Era da Luz é um estágio no qual o espírito ainda tem algum apego material ou sentimental e precisa dessa experiência para se enquadrar novamente em sua liberdade total.

― Obrigada pelas informações.

Minha experiência: Mercúrio, o cão intraterreno.