Procurei no registro akáshico a vida do meu despertar, ele veio através de uma visão. Eu vi um anjo.

Em tempos distantes, tão distante que não usavam nomes de países. Eram conhecidos como região de algum conquistador ou nome de uma cidade populosa.

Eu era uma criança e nossa comunidade foi invadida por um povo desconhecido. Os homens foram mortos. Os velhos e crianças que não podiam aguentar uma marcha longa foram sacrificados. Sobraram os adolescentes. Eu tinha onze anos, mas era uma menina alta e forte. Fomos levados como escravos.

Não havia como fugir. Fomos presos por cordas, amarrados nos tornozelos.

Um grupo de homens tomava conta dos prisioneiros. Alguns do grupo tentavam separar as mulheres, mas eram açoitados pelos homens que nos vigiavam. Eu não entendi o que estava se passando.

Caminhamos por algum tempo e chegamos a um acampamento. Fomos separados. Eu e algumas meninas fomos colocadas em um carro de boi, parecia uma gaiola. Pudemos sentar, estávamos exaustas.

― O que farão conosco? ― chorou Ana.

Um dos guardas respondeu:
― Todos serão vendidos. Vocês são virgens. Serão vendidas a preço de ouro.

Tremi. Fiquei com a mente vazia. Meus pensamentos se recusavam a aparecer. Eu não respondi, não pensei, não imaginei, não chorei.

Eles nos deram água e comida.

Bebi a água. Estava com muita sede.

― Comam! A próxima refeição será daqui a dois dias. ― ordenou um homem baixinho, gordo e careca.

Esse homem olhou para mim e se aproximou. Ficou me observando e disse ao guarda:

― Cuide pessoalmente dessas duas. Não podem ser tocadas. Alimente-as com um prato de comida por dia e lhes dê água, sempre que beber. Quero-as saudável. Não as deixe no sol. Há muito tempo que não temos duas jovens tão bonitas. O preço delas nos compensará por todos os nossos esforços.

Depois de algumas horas, escureceu e fogueiras iluminaram a escuridão. Eu e Ana continuávamos na mesma gaiola, mas vimos que houve um rodízio dos outros prisioneiros. Várias mulheres foram retiradas das gaiolas e levadas.

Vi com horror à diversão deles. As mulheres foram usadas como objetos de prazer, estupradas, surradas, algumas mortas por se revoltarem e agredirem seus algozes.

Chorei. Lembrei da minha mãe e minhas irmãs e fiquei feliz por elas haverem lutado até a morte. Não conheceriam a dor da escravidão. Continuei chorando.

Adormeci. O balanço do carro de boi me acordou. Ana estava sentada e disse:

― Um deles colocou a chave ali e disse que podemos fugir durante a noite. Ele nos levará de volta.

― De volta para onde? Nosso vilarejo foi queimado. Só ficaram os defuntos. Até os animais eles trouxeram.

― Não temos para onde voltar, nem para quem voltar. O que será de nós, Priscila?

― Rezarei aos deuses. Pedirei para ser comprada por um bom homem. Não confio em nenhum desses bandidos. ― respondi.

― Deuses? Já ouvi falar, mas minha mãe dizia que eles não existiam. ― respondeu Ana.

― Meus pais faziam oferendas a eles. Será que existem e podem decidir nossas vidas? ― falei para mim mesma.

O guarda se aproximou e ficamos em silêncio.

Meus pensamentos voltaram. As vozes na minha cabeça conversaram comigo. Perguntei mentalmente: Deuses, vocês existem? Claro que não tive resposta nenhuma.

― Tome! A água está racionada. Serão 2 canecas por dia. Não desperdice. ― falou secamente o guarda.

Tomei a água. Era manhã, mas estava muito quente.

Continuei a pensar nos deuses e insistir por uma resposta.

Chegamos a uma cidade grande. Entramos em uma casa grande, com muros altos. A gaiola que eu estava era a primeira. Assim que pararam as outras gaiolas, tive vontade de chorar. Os prisioneiros estavam famintos e sedentos. Alguns nem se mexiam.

Uma mulher veio nos receber e ao abrir a gaiola, ela encontrou a chave e perguntou:

― Quem colocou essa chave aqui?

Eu e Ana olhamos para a chave e sem o menor interesse. Ela sempre esteve aí. ― respondi.

Nosso guarda pessoal olhou e pegou a chave e disse:

― Quem colocou a chave aqui? Só existem duas chaves, uma comigo e outra com Jó. A chave dele desapareceu. Tenho vigiado muito bem vocês duas e todos que se aproximavam de vocês. Se me mostrarem o traidor, posso recompensá-las.

Ana perguntou qual seria a recompensa.

― Não a venderei a nenhum bárbaro sádico.

― Estávamos dormindo e aquele homem, apontou Ana, me acordou e a colocou aí, embaixo da grama. Priscila não acordou e eu me recusei a abrir a gaiola. Não temos para onde voltar. Deixamos a chave onde ele deixou.

O traidor foi preso imediatamente.

― Ainda bem que não acreditaram nele. É um bárbaro, teria fugido com vocês, mas não para libertá-las, apenas para terem duas mulheres lindas para ele. Se não concordassem, ele as mataria.

Fomos levadas para dentro da casa. Algumas mulheres nos banharam, nos vestiram com roupas bonitas. Nos pentearam e colocaram fitas nos cabelos.

― Descansem. Podem comer de tudo e saíram.

― Que casa bonita! Será que moraremos em um lugar assim? ― perguntou Ana.

― Isso é um altar! Eles conhecem os deuses.

― O quê? Do que você está falando, Priscila?

Ouvimos gritos lancinantes e nos assustamos.

Fomos até a porta, mas uma mulher nos impediu.

― Que gritos são esses? ― perguntei.

― Um traidor está sendo castigado. Podem assistir lá da janela. ― apontou a mulher.

Fomos até a janela. O homem que havia colocado a chave na nossa gaiola, estava amarrado, pendurado de cabeça para baixo e vários guerreiros atiravam flechas mirando em alguma parte do seu corpo. O infeliz ficou lá, por horas. Os gemidos dele me incomodaram e sem pensar, pedi:

― Deuses da guerra, tenham piedade desse homem bárbaro. Ele está sofrendo demais. Levem-no, por favor. Não gosto dele, mas meu coração dói quando vejo alguém sofrer.

Os gritos de dor pararam. Alguém atirou, sem querer, em um lugar fatal e encerrou o sofrimento do traidor.

Agradeci aos deuses: ― obrigada. O silêncio é um presente do céu. Não tenho oferendas, desculpem.

Fomos vendidas. Nunca mais soube de Ana.

Fui vendida a uma jovem rica, Vera, que me deu de presente ao pai. José era velho, já não andava, enxergava muito mal e sofria de muitas dores.

― Alegre os últimos dias de meu pai. Mime-o e o trate com muito carinho ou será severamente castigada. Ele não tem dentes, amasse muito bem a comida. Não lhe dê bebidas fermentadas, ele vomita. Cante para ele, dance, conte histórias. Faça qualquer coisa para ele esquecer suas dores. Ele sempre gostou de mulher bonita, gostará de você. Estará muito bem vigiada, se tentar fugir, mandarei cortar seu pé. Entendeu tudo que eu disse? ― perguntou.

― Entendi. Farei tudo que puder para ajudar seu pai. Não se preocupe, Vera, eu não tenho para onde fugir.

José gemia tanto. Mandei uma escrava ferver água e fiz compressa quente. Ele conseguiu dormir por algumas horas.

Havia um altar no quarto e lembrei dos deuses.

― Obrigada, Deuses, por ser comprada por uma boa mulher. Podem me ensinar como tirar a dor desse velho homem? Não gosto de ouvir gemidos de dor de ninguém.

― Não adianta falar com os deuses, sem fazer oferendas. Pegue aquela faca de ouro e coloque no altar para eles. ― falou José.

Levei um susto. José acordou e ouvira minha conversa com os deuses.

― Os deuses saberão que a faca não é minha e não a aceitarão.

― Ela é sua. Estou lhe dando de presente. Você tirou a dor que sinto há anos. Obrigado.

Peguei a faca e a coloquei no altar.

― Uma oferenda de José por curarem a dor dele. ― falei baixinho.

José viveu por mais um ano. Eu consegui melhorar a saúde dele. Conseguia se levantar. Comia sozinho e adorava as histórias que eu inventava.

Quando ele morreu, Vera me chamou e disse que seu irmão Jorge voltara muito doente da guerra.

Perdera um dos braços, estava quase cego e não tinha vontade de viver.

― Pode contar histórias para ele? Papai morreu feliz. Ele me pediu para libertá-la ou casá-la com um bom homem. Se você conseguir alegrar meu irmão como fez com meu pai, poderá escolher em ser livre ou casar com quem você quiser.

― Seu pai não queria morrer, foi fácil agradá-lo. Farei o que puder para auxiliar Jorge.

Mudei para a casa de Jorge.

Apesar de jovem, ele estava envelhecido, desanimado e infeliz. Nem olhou para mim.

Tentei conversar e ele disse querer ficar só. Não se alimentava. Insisti para comer e ele jogou o prato longe.

Não sabia o que fazer. Fui até a sala e vi um altar. Lembrei dos deuses.

― Deuses, Jorge está muito triste. Perdeu um dos braços e quer morrer. O que posso fazer para ajudá-lo a ser feliz novamente?

― Você não pode fazer nada! Os deuses só ouvem quem faz oferendas. Está vendo todas essas joias? São oferendas que faço diariamente. Está perdendo seu tempo. Saia do meu altar.

Afastei-me assustada.

― Se ao menos eu pudesse dormir uma noite inteira. ― chorou Jorge.

― Para dormir a noite inteira, não precisa pedir aos deuses. É só tomar uma xícara de chá de ervas que seu pai tomava.

Jorge olhou para mim.

― Meu pai dormia muito e eu o invejava. Faça o chá para mim.

Fiz o chá para Jorge. Antes, eu passei no altar e pedi aos deuses para abençoar o chá e fazer Jorge dormir o tempo suficiente para ele se sentir descansado.

Jorge dormiu a noite toda. Acordou já era sol alto.

― Obrigado, Priscila. Lamento tê-la tratado tão mal. Tem algum chá que faça parar a vontade de chorar.

― Sinto muito. Só tenho chás para dor, acalmar e dormir.

― Os deuses a ouvem sempre? Você não fez oferendas e eles abençoaram o seu chá. ― falou Jorge.

― Não sei se ouvem sempre. Eu só peço quando alguém está sofrendo muito. Eles sabem que não tenho pertences.

Jorge passou a conversar comigo e fui contando minhas histórias e ele as deles e nos tornamos amigos.

Jorge casou com a prometida dele e Vera me liberou para eu escolher um marido. Ela e Jorge providenciariam o casamento.

Fui ao altar e conversei com os deuses.

― Deuses, obrigado por tornarem minha vida boa. Mandem um bom marido para mim, por favor. Anjos existem? Posso ver um? Ri da minha infantilidade, pedi desculpas aos deuses e sai do altar.

A tarde estava muito quente. Sentei-me na varanda e fiquei tomando uma brisa. De repente, um anjo, vestido de verde, desceu até mim e disse:

― Anjos existem.

Fiquei deslumbrada. Os deuses existiam e os anjos também. Eles me ouviam e não precisavam de oferendas.

Algumas semanas depois, um negociante veio vender roupas e joias para Vera. Tinha um filho jovem, bonito e simpático.

Jorge foi chamado para ver se queria alguma mercadoria e percebeu o interesse do rapaz.

― Priscila, você gostou do rapaz? Ele é rico, trabalhador e cuida bem dos pais. Será um bom marido. Ele não tira os olhos de você. Se quiser, eu posso negociar esse casamento.

― Gostei, respondeu Priscila.

O pai do jovem, Eufrates, quis saber se Priscila era escrava. Vera informou que não. Era uma órfã sobre a responsabilidade dela. Quis saber também se ela tinha algum dote. Jorge respondeu:

― É a moça mais bonita da cidade. Se alguém a quiser em casamento, deverá pagar 1/3 do peso dela em ouro. Tem muitos pretendentes, mas ela não mostrou interesse em nenhum, por enquanto. Por que a pergunta?

― Meu filho está em idade de casar. Gostou da moça. Quanto ela pesa? Temos que continuar viagem ou correremos o risco de sermos pegos no inverno, antes de alcançarmos nossa casa. Partimos em 20 dias.

Jorge chamou Priscila e contou da proposta e perguntou se ela concordava.

Priscila concordou com o casamento. Como era magrinha, só pesou 45 quilos.

Eufrates pagou os 15 quilos de ouro e marcaram o casamento.

Priscila e Leon se casaram. Jorge deu os 15 quilos de ouro de presente para Priscila.
Leon foi o marido que Priscila pediu aos deuses.

Fim

Obrigada Priscila. Sua vida foi triste e muito linda. Adorei a sua história.

Conheça mais sobre quem contou uma de suas vidas.

Priscila

Anjo da Chama Verde

Meu nome é Priscila.
Faço parte da falange de anjos da chama verde.

Trabalho com mestre Hilarion. Atualmente a arcangelina Maria está nos motivando e orientando durante a transição planetária.

― O que você faz?
― É a primeira vez que participo de um projeto tão significativo. Estou no grupo de manutenção e sustentação da vibração energética. Curamos o planeta e as regiões em desequilíbrio provocados pelas guerras, desastres ecológicos, poluição e contaminação.

― Você tem asas?
― Tenho e adoro minhas asas.

― Bem-vinda! Obrigada por nos contar essa vida.

Minha experiência: “Os anjos existem”.