Era verão e num dia lindo, minha família resolveu passar a tarde na praia.
Eu, Natália, com 11 anos. Marlene, minha irmã mais velha, com 15 anos e meu irmão Roberto, um bebê de 1 ano e 6 meses. Ficamos debaixo de um guarda-sol. Nossa pele era muito branca e não podíamos nos expor ao sol como gostaríamos.
Madalena, minha mãe, ficou tomando conta de Roberto e deu a responsabilidade à Marlene de ficar comigo.
Alexandre, meu pai, encontrou alguns amigos e foram jogar bola.
Eu ia até aonde a onda estourava, enchia meu baldinho de água e voltava para fazer meus castelos de areia, debaixo do guarda-sol.
Madalena me acompanhava e me ajudava. Várias vezes tentei entrar na água e ela me impedia.
― Eu não gosto do mar, essa areia toda e a água salgada me dá coceiras. Se me desobedecer mais uma vez, ficará proibida de vir até aqui. ― resmungou ela.
Uma amiga de Madalena nos viu e foi falar com ela. Enquanto elas conversavam, eu resolvi dar um mergulho, como as outras crianças estavam fazendo. Eu não sabia nadar.
Sai correndo em direção às ondas, mas fui derrubada por elas e comecei a ser arrastada para dentro do mar, engolindo água. Tudo foi escurecendo.
Senti uma mão agarrando meus cabelos e me puxando para cima.
Um homem estranho me carregou, me deitou na areia e pressionava minhas costelas que doíam. Vomitei.
Madalena gritava e chorava, eu a ouvia longe.
Fui levada para uma ambulância. Fiquei sentada na maca. Eu via minha irmã e minha mãe chorando e eu não conseguia falar com elas.
O homem estranho que me tirou da água sentou-se ao meu lado, olhou para mim e disse:
― Sabe o que acontece com quem não sabe nadar e engole água e fica mais de três minutos sem oxigênio?
― Não. ― respondi.
― Morre ou fica em estado vegetativo até morrer.
― Por que elas não me ouvem?
― Porque você não está no seu corpo. Se não voltar nele, imediatamente, não voltará nunca mais.
Ele me deu um empurrão e eu caí deitada na maca e comecei a gritar, mas não era grito, eu não conseguia respirar.
Acho que tive uma convulsão. Vomitei toda água que estava dentro de mim, enquanto a enfermeira me segurava para eu não cair da maca.
― Pronto, ela já vomitou tudo, vou colocá-la no oxigênio. ― disse o médico.
― Respire devagar ou desmaia. Você está salva, pare de gritar. ― falou a enfermeira.
Comecei a chorar. Madalena segurou a minha mão e sorriu.
― Desculpe, eu não podia tirar os olhos de você. Teimosa! Nunca mais você virá à praia comigo. ― falou com raiva.
Mamãe só olhou para mim e não disse nada. Era o jeito dela dizer o quanto estava contrariada.
Fiquei em observação e de cinco em cinco minutos eu perguntava para o médico: posso ir brincar na areia, já estou bem?
Meu pai chegou, conversou com o médico. Recebi alta e fomos para casa.
O caminho de volta foi em silêncio.
Tentei contar do homem que me tirou da água e me empurrou para a maca, mas todos estavam tão bravos comigo que mandaram eu ficar calada.
― Papai… ― fiz algumas tentativas.
― Por sua teimosia, você estragou o nosso lindo passeio. Cala a boca! Não quero saber das suas histórias. ― falou papai.
Muito tempo depois, eu contei para Madalena e ela disse:
― Não conte isso a ninguém, vão pensar que você tem visões e é louca. Foi o seu anjo da guarda.
Aceitei a versão de Madalena, o homem era o meu anjo da guarda, mas não foi uma visão. Eu nem estava no meu corpo, ele que me empurrou de volta.
Li em algumas revistas que isso foi uma experiência de quase morte.
Nas minhas conclusões, morrer é só sair do corpo, encontrar o anjo da guarda e ir para onde ele está.
Onde será que ele está? Essa resposta eu não tive, mas foi o meu despertar.
Fim
Obrigada, Serena.